Cantigas e Cantos: POESIA: Zé Limeira, poeta do absurdo
Fonte:
http://cantigasecantos.blogspot.com.br/2013/03/poesia-ze-limeira-poeta-do-absurdo.html
POESIA: Zé Limeira, poeta do absurdo
Zé Limeira (Teixeira, 1886 — 1954) foi o
cordelista/repentista mais mitológico do Brasil. Era conhecido como Poeta do
Absurdo. Nasceu no sitio Tauá, em Teixeira, cidade da Paraíba que foi o
principal reduto de repentistas no século XIX.
Os temas que abordava em suas poesias e repentes
eram variados e chegavam, muitas vezes, ao delírio. Pornografia era um tema
recorrente, mas Zé Limeira ficou conhecido como “Poeta do Absurdo” por suas
distorções históricas, poesias recheadas de surrealismo e nonsense, e pelos
neologismos esdrúxulos que criava.
Vestia-se de forma berrante, com enormes óculos
escuros e anéis em todos os dedos, e saía pelos caminhos de sua vida, cantando
e versando.
O meu nome é Zé Limeira
De Lima, Limão , Limansa
As estradas de São Bento
Bezerro de Vaca Mansa
Valha-me, Nossa Senhora
Ai que eu me lembrei agora:
Tão bombardeando a França
Ninguém faça pontaria
Onde o chumbo não alcança
E vou comprá quatro livro
Prá estudá leiturança
Bem que meu pai me dizia:
Jesus , José e Maria,
São João das Orelha mansa
Ainda não tinha visto
Beleza que nem a sua,
De cipó se faz balaio
A beleza continua
Sete-Estrelo, três Maria
Mãe do mato pai da lua
A beleza continua
De cipó se faz balaio
Padre-Nosso, Ave-Maria,
Me pegue senão eu caio
Tá desgraçado o vivente
Que não reza o mês de maio
Sei quando Jesus nasceu,
Num dia de quinta-feira,
Eu fui uma testemunha
Sentado na cabeceira
São José chegou com um facho
De miolo de aroeira
Um dia o Rei Salamão
Dormiu de noite e de dia,
Convidou Napoleão
Pra cantá pilogamia
Viva a Princesa Isabé
Que já morô em Sumé
No tempo da monarquia
Zé Limeira quando canta
Estremece o Cariri
As estrêla trinca os dente
Leão chupa abacaxi
Com trinta dias depois
Estoura a guerra civí
A seguir o mais
famos dos textos do cordelista do absurdo:
O Marechal
Floriano
Antes de entrar
pra Marinha
Perdeu tudo
quanto tinha
Numa aposta com
um cigano
Foi vaqueiro
vinte ano
Fora os dez que
foi sargento
Nunca saiu do
convento
Nem pra lavar a
corveta
Pimenta só
malagueta
Diz o Novo
Testamento!
Pedro Álvares
Cabral
Inventor do
telefone
Começou tocar
trombone
Na volta de Zé
Leal
Mas como tocava
mal
Arranjou dois
instrumento
Daí chegou um
sargento
Querendo
enrabar os três
Quem tem razão
é o freguês
Diz o Novo
Testamento!
(...)
Quando Dom
Pedro Segundo
Governava a
Palestina
E Dona
Leopoldina
Devia a Deus e
o mundo
O poeta Zé
Raimundo
Começou castrar
jumento
Teve um dia um
pensamento:
“Tudo aquilo
era boato”
Oito noves fora
quatro
Diz o Novo
Testamento!
Quando Tomé de Souza
Era governador da Bahia,
Casou-se e no mesmo dia
Passou a pica na esposa.
Ele fez que nem raposa,
Comeu a frente e atrás,
Chegou na beira do cais
Aonde o navio trafega,
Comeu o Padre Nóbrega,
Os tempos não voltam mais!